Como Abracei o Islam

 

Como Abracei o Islam

Youssef Islam (Cat Stevens)

Fui criado no mundo moderno, de todas as luxúrias e sob as luzes da ribalta. Nasci num lar cristão, mas nós sabemos que toda criança nasce na sua natureza original, e são seus pais que a educam nesta ou naquela religião. Eu fui educado na cristã. Fui ensinado que Deus existe, mas não havia contato direto com Ele. Para tal, tínhamos de fazê-lo por intermédio de Jesus. Este era, de fato, a porta para Deus. E isso era mais ou menos, aceito por mim, mas não de todo.

Eu olhava para as estátuas de Jesus; eram apenas pedras, sem vida. E quando me diziam que Deus é trino, ficava mais confuso ainda, mas não podia argumentar. Acreditava mais ou menos nisso, porque tinha de respeitar a fé de meus pais.

Artista Famoso

Gradualmente fui ficando alienado dessa educação religiosa. Comecei a compor música. Queria ser um grande astro. Todas as coisas que via nos filmes e na mídia me atraiam, e talvez eu pensasse que aquilo era o meu Deus, a meta para fazer dinheiro. Um tio meu possuía um belo carro. “Bem”, eu disse, “ele conseguiu! Ele tem um monte de dinheiro”. As pessoas ao meu redor influenciaram-me a pensar que aquilo era assim; que este mundo era seu Deus.

Decidi, então, que aquela era a vida que eu queria, ganhar muito dinheiro, ter uma vida “bem vivida”. Os meus ídolos passaram a ser os grandes astros. Comecei compor, mas, no fundo, tinha um sentimento pela humanidade, um sentimento de que se eu me tornasse rico ajudaria o necessitado. (O Alcorão diz que nós fazemos promessa, mas quando conseguimos alcançar o nosso objetivo, tornamos-nos avarentos).

Assim, o que aconteceu foi que me tornei muito famoso quando ainda adolescente, e meu nome e foto apareciam em toda a m?dia. Isso me transformou em um ser maior que a vida, de tal modo que quis viver acima dela e o único caminho para fazê-lo era entorpecer-me (com bebidas e drogas).

No Hospital

Depois de um ano de sucesso financeiro e vida noturna, fiquei muito doente, contraindo tuberculose, e tive de ser hospitalizado. Foi quando comecei a pensar: O que aconteceu comigo? Será que eu era apenas um corpo e meu objetivo na vida era meramente satisfazer esse corpo? Descobri que essa calamidade foi uma bênção de Deus, uma chance para abrir os meus olhos. Perguntei a mim mesmo: por que estou aqui? Por que estou de cama? Comecei a procurar algumas respostas. Naquele tempo havia um grande interesse no misticismo oriental. Comecei a ler e a primeira coisa que me chamou a atenção foi a morte, e que a alma se movimenta, ela não pára. Senti que estava seguindo o caminho da glória e da perfeição. Comecei a meditar e até tornei-me vegetariano. Passei a acreditar na “paz e no poder das flores”, e essa foi a tendência geral. Mas o que eu acre­ditava, em particular, era que eu não era apenas um corpo. Tomei essa consciência no hospital.

Um dia, quando caminhava, fui pego pela chuva. Comecei a correr para um abrigo e então descobri: “espere um minuto, meu corpo está ficando molhado, meu corpo está me dizendo que estou ficando molhado.” Isto me fez pensar sobre um ditado que diz que o corpo é igual a um burro e deve ser treinado para onde tem de ir, senão poderá levá-lo onde ele quiser ir.

Então, descobri que tinha uma vontade, uma dúvida de Deus: seguir a Vontade de Deus. Fiquei fascinado pela nova terminologia, que estava aprendendo na religião oriental. Naquela época eu já estava farto do cristianismo. Recomecei a fazer música e fiquei refletindo sobre os meus próprios pensamentos. Lembro-me das palavras, de uma das minhas músicas. Diziam o seguinte: “gostaria de saber quem fez o Céu, quem fez o Tormento. Consigo, acaso, conhecê-Lo, na minha cama ou em algum compartimento poeirento, enquanto outros alcançam o grande portento?” Sabia que estava no caminho.

Escrevi, também, outra música: “A Maneira de se Encontrar Deus”. Tornei-me mais famoso ainda, no mundo da música. Realmente eu estava em dificuldades, pois estava ficando rico e famoso, ao mesmo tempo em que estava à procura da verdade. Cheguei a um estágio em que decidi que o budismo era certo e nobre, mas eu não estava pronto para abandonar o mundo. Estava muito ligado a ele e não estava preparado para me tornar um monge e me isolar da sociedade.

Tentei Zen e Eching, numerologia, tarô e astrologia. Tentei procurar na Bíblia e nada encontrei. Nesta altura eu nada sabia sobre o Islam e, então, o que eu reputo como milagre aconteceu. Meu irmão visitou a Mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, e ficou muito impressionado pelo fato de que, mesmo lotada de gente (diferente de igrejas e sinagogas, que estavam vazias), ela possuía uma atmosfera de paz e tranqüilidade.

Quando meu irmão voltou para Londres, trouxe com ele uma tradução do Alcorão, que me deu. Ele não se converteu ao Islam, mas sentiu algo nesta religião, e pensou que eu poderia encontrar algo nela.

Quando recebi o livro (um guia que podia explicar tudo para mim: quem sou eu? Qual é o propósito da vida? Qual era a realidade e o que poderia ser a realidade? De onde eu vim?), descobri que aquilo era a verdadeira religião – não no sentido que o Ocidente entende, não o tipo apenas para os seus anos de idoso. No Ocidente, aquele que deseja abraçar uma religião e fazê-la seu único caminho de vida é considerado fanático. Eu não era fanático; estava no início confuso entre o corpo e a alma. Então descobri que o corpo e a alma não estão separados e não é preciso irmos para as montanhas para sermos religiosos; devemos seguir a vontade de Deus, então podemos subir a locais mais al­tos que os dos anjos. A primeira coisa que queria fazer então era tornar-me muçulmano.

Descobri que tudo pertence a Deus, que a lassidão nunca O domina. Ele criou tudo. Neste ponto comecei a perder o meu orgulho, porque eu pensava que a razão de eu estar aqui era devido a minha própria grandeza. Mas descobri que eu não criei a mim mesmo, e que todo o propósito de eu estar aqui era o de submeter-me aos ensinamentos que foram aperfeiçoados pela religião que conhecemos como Islam. Neste ponto em que comecei a descobrir minha fé, senti que era muçulmano, ao ler o Alcorão. Descobri que todos os profetas, enviados por Deus, trouxeram a mesma mensagem. Por que então os judeus e os cristãos eram diferentes? Sei agora por que os judeus não aceitaram Jesus como o Messias e por que alteraram as palavras de Deus. Mesmo os cristãos confundiram a palavra de Deus e denominaram Jesus, o filho de Deus. Tudo começava a fazer sentido para mim. Esta é a beleza do Alcorão: ele lhe pede para refletir e raciocinar e não para adorar o sol e a lua, mas ao Deus único, Que criou tudo. O Alcorão pede ao homem para refletir sobre o sol e a lua e sobre as criações de Deus em geral. Você já descobriu quão diferente são o sol e a lua? Situam-se a diferentes distâncias da terra, e parecem do mesmo tamanho para nós; às vezes parece que se sobrepõem. Quando os astronautas vão ao espaço e vêem o tamanho insignificante da terra e a vastidão do universo, tornam-se muito religiosos, porque presenciam os portentos de Deus.

Em outras passagens, o Alcorão fala sobre a oração, a bondade e a caridade. Eu n?o era muçulmano ainda, mas sentia que a única resposta para mim era o Alcorão; e Deus o tinha enviado para mim e, guardei isto em segredo. Mas o Alcorão também fala em níveis diferentes. Comecei a compreendê-lo em outro nível onde ele diz: “Os crentes não tomam os incrédulos por amigos e os crentes são irmãos.” Assim, neste ponto, desejei encontrar-me com meus irmãos muçulmanos.

A Reversão!

Então decidi viajar para Jerusalém (como meu irmão havia feito). Em Jerusalém, fui à mesquita e sentei. Um homem me perguntou o que eu queria. Disse-lhe que era muçulmano. Perguntou qual era o meu nome: Disse-lhe que era “Stevens”. Ele ficou confuso. Juntei-me aos outros na oração, apesar de não ter sido muito bem sucedido.

De volta a Londres, encontrei uma irmã chamada Nafisa. Disse-lhe que queria me converter e ela me encaminhou para a Nova Mesquita Real. Isso foi em 1977, um ano e meio depois de ter recebido o Alcorão. Descobri, então, que devia livrar-me de meu orgulho, livrar-me do demônio e olhar numa só direção.

Assim, numa sexta-feira, depois da oração, fui até o imam e declarei minha fé (o testemunho) perante ele. Disse-lhe: Eis aqui um homem que conseguiu fama e fortuna, mas nunca conseguiu orientação por mais que tentasse, até ver o Alcorão.

Doravante eu pude estar em contato direto com Deus, ao contrário do cristão ou do adepto de qualquer outra religião. Uma moça hindu havia me dito: “você não entende os hindus. Nós cremos em um Deus. Usamos os ídolos meramente para nos concentrarmos”.

O que ela estava me dizendo era que, para chegar­mos a Deus, temos de criar-Lhe parceiros, que são os ídolos. O Islam, porém, remove todas essas barreiras. A única coisa que distingue o crente do incrédulo é a oração. Este é o processo da purificação. Finalmente, desejo dizer que tudo que fiz foi para aprazer a Deus, e oro para que você ganhe alguma inspiração da minha experiência.


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