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Os Filhos de Israel entram em uma nova era.

De acordo com a história bíblica[1], o antigo reino de Israel foi governado por uma sucessão de reis.  Depois de vagar no deserto por um período indeterminado de tempo, os Filhos de Israel (israelitas) entraram na Terra Prometida e dividiram-se em dois reinos distintos.  O rei Davi conseguiu unir os dois reinos, enquanto que seu filho Salomão levou os Filhos de Israel a um período de prosperidade e paz conhecido como Idade Dourada.  Para muitos leitores pode ser uma surpresa saber que a história islâmica também contém histórias dos reis Saul, Davi e Salomão.  Os muçulmanos crêem que Davi e Salomão são profetas e, como tal, devem acreditar neles, amá-los e respeitá-los como parte do credo do Islã.  O que se segue é um relato do reino de Israel a partir de uma perspectiva islâmica[2].

Quando o profeta Moisés liderou seu povo para sair da escravidão no Egito, enfrentou testes e desafios severos.  Depois de gerações sob o jugo dos egípcios, os Filhos de Israel precisavam de um período de recuperação.  Suas almas tinham sido endurecidas pelas práticas idólatras predominantes no Egito, que fizeram com que uma escuridão se estabelecesse em seus corações.  Embora Deus tivesse direcionado Moisés para liderar seu povo à Terra Prometida, foram impedidos de entrar até que toda a geração de Moisés tivesse morrido e substituída por um povo cujos corações estivessem cheios da lembrança de Deus.  Josué liderou os Filhos de Israel à Terra Prometida e por algum tempo suas condições permaneceram puras e seus corações e mentes focados em agradar o Deus Único.

O tempo passou e suas condições morais deterioraram, os israelitas começaram a cometer muitos pecados, incluindo o crime abominável de matar seus profetas.  Consequentemente Deus decretou que um rei tirano e que pouco se importava com seu povo os governasse.  Ele derramou seus sangues, tratou-os com desprezo e sua agressão envolveu-os em guerras com países vizinhos.  Durante essas guerras intermináveis, os israelitas carregaram com eles uma arca contendo relíquias e tesouros de seus profetas Moisés e Aarão.

A arca era conhecida como a Arca da Aliança e os israelitas a valorizavam tanto que até a carregavam nas batalhas.  Trazia-lhes uma grande paz e os enchia de coragem.  Entretanto, seus inimigos acreditavam que a arca tinha poderes especiais e os atemorizava.  Na épca os filisteus superaram esse temor, derrotaram os israelitas e capturaram a arca.  Quando o rei tirano soube que a arca havia sido capturada, teve um colapso e morreu.  Os Filhos de Israel continuaram perdidos, como ovelhas

sem um pastor, até que Deus enviou o profeta Samuel para guiá-los de volta ao caminho verdadeiro - a adoração do Deus Único, sem parceiros, filhos, filhas ou rivais.

Designe-nos um rei

Desencorajados pela perda de poder os israelitas imploraram ao profeta Samuel que lhes designasse um rei.  Pediram um homem forte que os levasse novamente ao poder e prosperidade, mas Samuel conhecia suas promessas e apelos.  Temia que seus corações enegrecidos não lhes permitissem lutar em nome de Deus.  Samuel era um homem sábio e orou para que Deus o direcionasse para um homem adequado para ser o rei dos israelitas.  Deus escolheu Saul (Talut) para ser o rei e informou ao profeta Samuel que ele reconheceria esse jovem homem piedoso.

Saul era um jovem alto e bem constituído que trabalhava com o pai em sua fazenda.  Um dia, quando alguns jumentos escaparam da fazenda, Saul e um servo foram procurá-los.  A busca levou-os à cidade do profeta Samuel.  Saul era um homem sábio que ouvia os conselhos de seus servos e abordou o profeta Samuel sobre a perda dos jumentos.  Samuel o reconheceu imediatamente como o futuro rei e assegurou a Saul que os jumentos já tinham sido devolvidos ao seu pai.  O profeta Samuel informou a Saul que Deus o havia escolhido para ser o rei dos Filhos de Israel.

Saul ficou chocado e admirado e imediatamente respondeu dizendo que não merecia tamanha honra, porque era da tribo de Benjamin, uma tribo inferior que a maioria dos israelitas considerava indigna de tamanha grandeza.  O profeta Samuel explicou que isso não tinha importância, já que Deus já havia decretado que Saul fosse o rei.  Samuel apresentou Saul aos israelitas dizendo: "Deus vos designou Talut por rei." (Alcorão 2:247)

A reação imediata dos Filhos de Israel foi reclamar.  Apesar de terem implorado a Deus por misericórdia e libertação da opressão, responderam com desprezo em relação ao jovem rapaz piedoso, cujo coração era cheio de amor pelo Deus Único, e o profeta Samuel.  Disseram: "Como poderá ele impor a sua autoridade sobre nós, uma vez que temos mais direto do que ele à autoridade, e já que ele nem sequer foi agraciado com bastantes riquezas?" (Alcorão 2:247)

Os corações dos israelitas tinham mais uma vez tornado-se endurecidos e doentes.  Estavam preocupados com fortuna e status, ao invés de piedade e descobriram falhas no líder escolhido por Deus.  Embora Saul não tivesse riqueza ou status, Deus o abençoou com conhecimento e estatura.  O profeta Samuel tentou argumentar com eles.  Disse: "É certo que Deus o elegeu sobre vós, concedendo-lhe superioridade física e moral.  Deus concede a Sua autoridade a que Lhe apraz, e é Magnificente, Sapientíssimo." (Alcorão 2:247) Entretanto, os israelitas continuaram a reclamar e objetar, pedindo por um sinal de Deus de que Saul fosse de fato adequado para ser seu rei.

Deus, em Sua infinita misericórdia e sabedoria, decidiu fornecer aos israelitas com o sinal (ou milagre) que exigiam.   Deus instruiu os anjos para devolverem a Arca da Aliança que havia sido capturado pelos filisteus.  Deus não só devolveu sua amada arca de madeira, cheia com as relíquias do passado, mas também acrescentou tranquilidade ao seu conteúdo.

"E o seu profeta (Samuel) voltou a dizer: Em verdade!  O sinal da sua autoridade consistirá em que vos chegará a Arca da Aliança, conduzida por anjos, contendo a paz do vosso Senhor e algumas relíquias, legadas pela família de Moisés e de Aarão.  Nisso terei um sinal, se sois crentes." (Alcorão 2:248)

Saul foi oficialmente nomeado rei.  Estabeleceu e preparou um exército para recuperar as terras roubadas dos Filhos de Israel.  Entretanto, Saul insistiu que seu exército fosse constituído apenas de homens corajosos e piedosos.  Os homens sob o comando de Saul seriam aqueles cujos corações estavam cheios de amor pelo Verdadeiro e Único Deus.



Footnotes:

[1] (http://www.fordham.edu/halsall/ancient/asbook06.html#The%20National%20Monarchy)

[2] Baseado no trabalho de Ibn Kathir, Histórias dos Profetas.