Onda de revolta põe embaixadas dos EUA sob ameaça no mundo islâmico

Washington na mira. Dois dias após morte de embaixador na Líbia, manifestantes em fúria contra filme que ridiculariza Maomé convocam novas marchas e ateiam fogo a missões no Egito e no Iêmen; Sudão, Tunísia, Gaza, Afeganistão e Irã também têm protestos


14 de setembro de 2012 | 10h 10
CAIRO – O Estado de S.Paulo

Ao redor do mundo islâmico, missões diplomáticas dos EUA voltaram a ser alvo de multidões em fúria, dois dias após o embaixador americano na Líbia, Jay Christopher Stevens, ter sido assassinado em Benghazi. Em pelo menos duas embaixadas, no Cairo e no Iêmen, a bandeira americana foi ontem arrancada e trocada por uma negra, usada pela Al-Qaeda – imagem especialmente sensível em tempos de campanha eleitoral nos EUA.

Em entrevista, o presidente Barack Obama disse acreditar que os protestos continuarão nos próximos dias, mas os EUA “não têm a opção” de se retirar do mundo islâmico. Antes, questionado sobre a posição dúbia do governo egípcio diante dos protestos antiamericanos, Obama afirmou considerar que o novo Egito “não é nem inimigo nem aliado” de Washington.

Ao mesmo tempo, no Cairo, o terceiro dia de manifestações tornava-se mais violento do que os anteriores. Automóveis foram incendiados e manifestantes conseguiram entrar no complexo diplomático, trocando a bandeira dos EUA por uma usada pela Al-Qaeda. Os confrontos deixaram cerca de 300 feridos – segundo a agência EFE – e, no muro da embaixada, havia mensagens como “Obama, nós somos discípulos de Osama (bin Laden)”.

A onda de distúrbios está relacionada a um filme obscuro, aparentemente feito nos EUA, que retrata o profeta Maomé como pedófilo, bissexual e sanguinário. Ontem a secretária de Estado, Hillary Clinton, voltou a condenar a filmagem: “Ele (o filme) é repulsivo, parece ter o cínico objetivo de macular a imagem de uma grande religião e incitar o ódio. Rejeitamos absolutamente essa mensagem”.

A confusão sobre a origem do filme cresceu ainda mais ontem. O homem que havia sido identificado na imprensa americana como o autor de Inocência dos Muçulmanos não existe e, agora, ninguém sabe ao certo quem está por trás do filme (mais informações na página A11).

Sitiados. Os maiores ataques a embaixadas americanas ocorreram nas capitais egípcia e iemenita, mas grandes manifestações foram registradas também no Iraque, Marrocos, Tunísia, Sudão, Faixa de Gaza e Afeganistão. Em Teerã, mais de 500 ativistas protestaram diante da missão da Suíça, que representa os interesses dos EUA na república islâmica.

Testemunhas do assalto à embaixada americana no Iêmen afirmam que forças de segurança tentaram, sem sucesso, dispersar a multidão que se formou diante do complexo diplomático, na região leste de Sanaa. Os manifestantes conseguiram romper o cerco policial e invadir o local, escalando uma muralha antes de atear fogo ao prédio principal.

Seguranças da embaixada efetuaram disparos para o alto, afirmaram testemunhas, e a polícia local só conseguiu afastar os manifestantes depois que alguns chegaram a saquear móveis e computadores do prédio.

O governo do presidente egípcio, Mohamed Morsi, emitiu ordens de prisão contra cristãos coptas que teriam participado do filme nos EUA (além do pastor da Flórida Terry Jones, que há três anos ameaçou fazer uma fogueira com exemplares do Alcorão). Morsi convocou ainda uma manifestação em repúdio à produção blasfema, mas não condenou os protestos diante da embaixada americana.

Obama deixou ontem transparecer a inquietação diante das últimas declarações da Irmandade Muçulmana, no Cairo. O presidente afirmou que, se funcionários egípcios indicarem que “não assumirão suas responsabilidades, teremos um grande problema”. Os EUA mantinham calorosas relações com o Egito durante o regime de Hosni Mubarak e a ajuda anual de Washington ao Cairo é estimada em US$ 2 bilhões. / REUTERS e THE NEW YORK TIMES


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Fonte :

http://www.estadao.com.br


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