A presença muçulmana na arena pública portuguesa

Durante anos, alguns professores pediram regularmente aos imãs das mesquitas locais que dessem aulas sobre o Islão. Os alunos foram sempre bem-vindos. Em várias ocasiões, por exemplo, na abertura de cerimónias ou aniversários de instituições islâmicas, os (principais) representantes do estado (como Mário Soares, durante a sua presidência) tomaram parte nas festividades.43

Juntamente com outras minorias religiosas, ainda que em segundo plano, os muçulmanos portugueses participaram em debates sobre liberdade religiosa e tópicos com ela relacionados. Em todas as negociações legais ou debates sobre os direitos das minorias religiosas em Portugal, os grupos protestantes e as organizações de apoio desempenharam o papel principal. A partir do início dos anos 90, os debates sobre a reforma da lei de liberdade religiosa, que em aspectos cruciais provém da era do Estado Novo, tornaram-se questões focadas pela imprensa.Em 1996, a Comissão de Reforma da Lei de Liberdade Religiosa do governo (CRLLR) convidou todas as profissões de fé e associações religiosas registadas na lista do Ministério da Justiça, para apresentar propostas e declarações para a reforma da lei (Público, 21-07-1996).44 Com a excepção da igreja católica romana, que não demonstrou grande interesse, os que responderam puderam ser divididos em três grupos principais: igrejas protestantes e pentecostais (tais como a Assembleia de Deus, de origem brasileira), religiões não cristãs tradicionais (Islão, Budismo, Hinduísmo e Judaísmo) e novos movimentos religiosos (NMR). Segundo a classificação da perspectiva portuguesa, a maioria destes últimos são denominações protestantes e/ou proclamam raízes cristãs, tais como as TestemunhasdeJeová, a Igreja Maná ou a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Juntamente com a comunidade judaica,45 os muçulmanos portugueses organizaram a aliança das religiões não cristãs.46 Devido à grande convergência das suas solicitações, os judeus e os muçulmanos portugueses tiveram novamente a ocasião de demonstrar a sua prontidão para trabalharem juntos.47 Embora as minorias protestantes tenham, aparentemente, sido a razão para a renovação deste debate em Portugal, o tema tornou-se mais complexo com o aparecimento dos NMR.48

Devido ao seu enorme crescimento depois de 1974, as igrejas evangélicas, denominações de protestantismo e NMR em Portugal, atraíram muito mais a atenção do que os grupos minoritários não cristãos, como os hindus, os ismaelitas e os muçulmanos sunitas. O facto de estas minorias religiosas cristãs (mas não católicas) terem atraído um número significativo de adeptos portugueses, tornou-os muito presentes na esfera pública portuguesa. Foram também objecto de estudos conduzidos por eruditos e institutos de pesquisa, de alguma forma ligados à igreja católica romana dominante ou às próprias instituições protestantes.49 Se examinarmos os artigos de jornais portugueses publicados durante os últimos vinte anos, podemos afirmar que as minorias religiosas não cristãs (sobretudo os muçulmanos e os hindus) não produziram, em geral, temas controversos na imprensa. Além disso, penso que é seguro presumir que não tiveram qualquer impacte significativo na sociedade portuguesa, exceptuando o facto de estarem representados na “população imigrante”. Com efeito, entre as minorias religiosas, (apenas) a IURD provocou aquilo a que se pode chamar um verdadeiro escândalo na esfera pública, no início dos anos 90.50

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Fonte :

http://www.scielo.oces.mctes.pt


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